BabyTime: RETA FINAL DA GRAVIDEZ: A MÃE DAS ANSIEDADES!

RETA FINAL DA GRAVIDEZ: A MÃE DAS ANSIEDADES!

04 janeiro 2018


Quando me sento perante a minha obstetra pareço a grávida mais calma do mundo e com tudo controlado, porque? Porque naquele dia vou feliz e só penso numa coisa “ver o bebé, vou ver o bebé, VOU VER O MEU BEBÉ” e estou tão contente e entusiasmada que senão levar as dúvidas escritas até me esqueço de as perguntar. Cabeça de grávida é mesmo assim.

Consulta feita, a hora seguinte é para contextualizar toda a família e amigos chegados sobre a evolução da cria com informação factual sobre percentil, peso e foto da ecografia (se for o caso) e a exibir todo o orgulho e felicidade do mundo. Sem esquecer de referir as posições da criança aqui no ventre.

Mas depois… depois basta passar a magia daquela hora para cair na realidade do terceiro trimestre. Voltam as dores, os desconfortos, os receios e adensa-se a ansiedade. E a ansiedade na segunda gravidez tem mais caras: a ansiedade de ter tudo pronto porque nos primeiros meses andamos "com tempo", a ansiedade de fazer a mala da maternidade como se existisse um relógio a gritar cá dentro "pode ser a qualquer hora", a ansiedade de dar conta do recado, a ansiedade do “será que vou ser boa mãe”, do “vou conseguir dar atenção aos dois, sem me perder pelo meio?”, “vou conseguir amamentar?”, “vou conseguir criar rotinas de sono?”, “vou ter ansiedade por não descansar?”, “vou andar cheia de enxaquecas como no primeiro pós-parto?”... e, chega com ele o pai de todas as ansiedades - o parto, “vai ser rápido ou demorado como o primeiro?, “será que desta vez dilato?”, “será que, desta vez, as águas rebentam?”, “será que ele também vai ser um bebe grande?”, “vou logo para o hospital nas primeiras contrações ou espero porque o primeiro demorou?”, “sigo os sinais do corpo ou a estratégia definida na cabeça?”, e o Duarte “será que fica bem?” (correm-me as lágrimas só de escrever isto). Já disse que ando chorona como tudo? 

De facto, quem diz que a segunda gravidez é mais tranquila porque já conhecemos os sintomas e sabemos lidar deve ter sofrido de alguma espécie de amnésia pós-parto. Assim com quem diz que as dores se esquecem… eu tenho-as bem reais na cabeça, lembro-me de tudo e de todos os detalhes do parto. 

O que acontece de bom na primeira gravidez é que estamos completamente às cegas e isso ao contrário do que se pensa, até ajuda na ansiedade. Não sabemos ao que vamos, estamos radiantes com o primeiro filho, todos os temas são novidade (desde a escolha das fraldas ao berço de ultima geração) e passamos horas a lamber informação. A cabeça anda mais ocupada e paralelamente mais distraída. Fazemos curso de preparação para o parto, ouvimos aquelas enfermeiras seguras de si com dicas de cuidados e amamentação e até nos sentimos preparadas e cheias de confiança. Temos medo do parto, mas como nunca lá estivemos, nem sabemos bem o que as dores representam nem qual é a sua real dimensão. Estamos apenas felizes e expectantes. 

A segunda gravidez, de facto, até admito que possa ser mais tranquila, mas só no primeiro trimestre, não vamos a correr para o médico por tudo e por nada, vamos comprar Nausefe à farmácia par ajudar nos enjoos sem precisar de pedir recomendação à medica, esperamos mais serenas pelas 12 semanas (embora continuemos a achar que demoram uma eternidade a passar), desvalorizamos alguns sintomas repetidos e não fazemos de outros bichos de 7 cabeças. Mas é só. Tudo o resto na segunda gravidez, pelo menos na minha, é a multiplicar e surge mais cedo, desde as dores, ao desconforte e até ao medo.  

Por aqui, depois de um primeiro trimestre de muitos vómitos, ansiava pelo segundo, aquele que supostamente é o mais tranquilo e que desfrutamos da gravidez. O tanas. Conto pelos dedos de uma mão os dias verdadeiramente tranquilos que tive, vieram as contrações precoces, a ciática e os sangramentos, juntou-se-lhe o medo, o cansaço e uma certa irritabilidade de não se puder fazer tudo e ter que saber esperar - o que para mim é um verdadeiro desafio. Para quem está de forma isto pode parecer frio, mas tenho a certeza que as grávidas sabem bem do que falo, nós sentimos necessidade de preparar o terreno e ter que estar a fazer festinhas ao sofá chateia-nos. 

E assim se passam três meses à espera de um dia melhor, até que aterramos no terceiro trimestre e a barriga volta a dar um pulo, dos grandes. A ansiedade da proximidade ganha outra medida, o olho direito pisca, o nariz sangra, o estômago comprime e parece não ter espaço, as gengivas doem, os pés incham, respiramos pior, vestimo-nos mal e por vezes já pedimos ajuda para tirar as calças, dormimos com duas almofadas na cabeça e uma entre as pernas, passamos a noite no vira-vira, e sempre que nos viramos temos que ir fazer aquelas pingas de xixi que aqui ficam a fazer "comichão" no cérebro e não os deixam voltar a adormecer. O corpo dá sinais. O cérebro pede ação e preparação.

Originar uma vida é uma transformação megalómana. Façam as Dolly´s em laboratórios, mandem naves para o espaço, criem carros que voam… mas nada, em nada, jamais se comparará ao poder da criação e da origem humana. 

Podia vir para aqui cheia de filtros e romances sobre a gravidez, é mais bonito de se partilhar e cai bem a toda a gente. Mas estar grávida tem tanto de beleza e magia como de agitação e preocupação. Só quem passa sabe. Por isso é que acredito mesmo que na reta final (quiçá na segunda gravidez) começamos a ter tantos e mais precoces desconfortos para, de certa forma, nos sentirmos pressionadas a ansiar pelo dia do parto ao invés de o "temer". Como se fosse uma preparação natural do cérebro para o acontecimento. 

Faltam 2 meses para conhecer o meu amor e chegar ao momento em que vou deixar isto tudo para trás e sim, sei que vou ter saudades desta barriga que me está a dar tanto orgulho quanto trabalho! 

No fundo, isto tudo se resume à lei da compensação:



Quem mais partilha deste mix de sentimentos?

Beijos,