BabyTime: #E SE...?

#E SE...?

19 junho 2018



E se vou e... não corre bem?
E se vou e... desisto a meio?
E se vou e viro... as costas e fujo?
E se vou e... não tenho coragem de dar mais um passo?
E se vou e... fico aflita?
E se vou... e tenho medo de estar sozinha?
E se vou... e tenho de largar tudo e vir embora?


"E SE...?"

Esta tem sido a interrogação que corre em loop na minha cabeça desde que vivo com ansiedade.  Já lá vão 10 anos. 10 anos em faço scan de todos os passos que dou. Desde os mais simples aos que envolvem mais logística. Desde a ida para o trabalho de manhã, às compras no supermercado, à saída à rua sozinha com os meus filhos, às viagens em família, ao convite para o evento que aceito ir. Viver com ansiedade é assim. Estamos sempre a dar tiros no escuro sempre que decidimos algo porque nunca sabemos se vai correr muito bem e o dia é uma vitória ou se vamos ficar em stand by por mais uma crise. Viver com pânico é estar no meio campo de um derby empatado, cujo resultado só se conclui na última jogada. Como o dia em que decidimos saltar de pára quedas e até corre bem ou o dia em que decidimos enfrentar uma multidão numa maratona e percebemos que contrariamente às probabilidades até foi libertador?  

Quando me perguntam se não tenho medo de ser mãe? Se a maternidade não agrava a ansiedade? Se a ansiedade não estraga a minha relação? Se não tenho medo de sair sozinha com o bebé? Como faço com o ginásio e a ansiedade? 

Medo tenho. Mas já tive mais. Já vivi com medo de demasiadas coisas. Mas felizmente não sou de me prender. 

A gaiola da ansiedade não é suficientemente forte para me fazer desistir desta coisa bem melhor que é viver. Ela já me travou muitas vezes, já me fez virar o volante para a berma, já me impediu de andar a mais de 40, já me estendeu no sofá, já me tirou noites, mas nunca me parou. 

E mesmo quando me fez estacionar no hospital, não me impediu de continuar. Porque sempre que continuo estou em processo de cura. E o que sei hoje é que quanto mais prossigo a minha vida, mais confiante estou. 
 
Encaro os dias como uma estatística de 50/50, onde parar é "não viver" e ir é tentar. E o ir pode ser uma decisão tão simples quanto ir ao pão sozinha ou todas as coisas que disse anteriormente. Na outra semana encorajei uma menina com ansiedade a enfrentar o medo e ir finalmente fazer aquela aula de Pilates que tanto lhe apetecia mas tinha medo. Sabem que mais? Ela foi e já repetiu mais duas vezes. Eu também fui à minha e cheguei lá com os lábios a tremer, mas empurrei a porta e entrei na sala. Quando sai da aula já nem me lembrava como tinha entrado. Esqueci. Acumulei mais autoconfiança para combater a próxima ameaça...e a próxima e a próxima.  


E se vou e... não corre bem adoro lá estar?
E se vou e... desisto a meio encontro paz?
E se vou e viro... as costas e fujo fã da aula?
E se vou e... não tenho coragem de dar mais um passo voou mais alto?
E se vou e... fico aflita feliz como nunca?
E se vou... e tenho medo de estar sozinha? tenho um dia memorável com os meus filhos? 
E se vou... e tenho de largar tudo e vir embora  encontro paz?
E se... tiver um bebé e não conseguir lidar tiver um bebé e correr bem?
E se... tiver dois bebés e correr bem?
E se... a maternidade me assustar a maternidade me realizar mais do que tudo?


E se... um dia ela já não me assustar mais?