BabyTime: #SEGUNDO FILHO - O PARTO MILAGRE!

#SEGUNDO FILHO - O PARTO MILAGRE!

06 abril 2018


Finalmente consegui vir aqui ao blog para deixar o relato do parto. Já não me lembrava o quanto um recém nascido exige de nós. O tempo parece que encurta para tudo.

No final da gravidez pensei muito no parto e em qual seria a minha história desta vez. Uns dias acumulei bastante ansiedade, noutros em que estava mais calma desejava que acontecesse naquele momento de "falsa" tranquilidade. Falsa porque a verdade é que nisto da maternidade nunca estamos descansadas e até os termos nos braços e lhe contarmos os dedos todos. Existe sempre uma margem inevitável de insegurança e medo. Como quanto vamos andar de avião, há sempre um pensamento sobre a possibilidade da queda.  

Imaginei, mesmo sem querer pensar demasiado nisso, muitos cenários para o segundo parto. Todos eles sempre ligados ao meu parto anterior que foi muito difícil, levou muitas horas (36h com dores para chegar aos 4 dedos de dilatação) e deixou muitos fantasmas e dúvidas sobre um segundo bebé. O relato está aqui se quiserem ler. 

Ia mentalmente preparada para voltar a sofrer, pelo menos, tantas horas quanto um dia tem. Para mim o conceito de chegar à maternidade e ter o bebé no mesmo dia não existia. Do Duarte entrei a 19 de janeiro à noitinha e ele só nasceu dia 21 ao almoço. Foi exaustivo e doloroso. 

Imaginei, por isso, muitos cenários mas nunca o que vou relatar nas próximas linhas. A verdade é que no primeiro parto quase morri e neste renasci. No primeiro parto sofri dias e tive a vida por um fio no bloco, neste sofri minutos e nem sei se é justo chamar-lhe sofrimento. Foi tão bonito e fácil. Acho que a vida se encarregou de ajustar contas naturalmente e eu recebi este meu segundo bebé com todos os meus sentidos a funcionar e com a maior tranquilidade da vida. 

Já contei no Instagram que passei o dia de véspera com o Duarte. Quis ficar com ele naquele dia para me sentir mais acompanhada e ter a cabeça distraída e não tão focada no parto.  Fomos ao talho, ao dentista, almoçamos no Mac, fizemos compras no supermercado, não parei o dia todo mas porque me sentia bem e já estava convencida que ia passar as 40 semanas.


O Duarte nasceu a 21 de janeiro e já tinha dito muitas vezes que gostava que o mano nascesse a 21 de março. Eu desejava secretamente que isso acontecesse para fazer a graça ao mano mais velho mas por estar entregue à vontade da natureza e não ter sintomas nenhuns quanto mais a data se aproximava mais eu desacreditava. A verdade nesta gravidez é que perto do fim os sintomas de alerta e as contrações de treino que sempre me acompanharam desapareceram. A única coisa que sabia é que tinha o colo curto desde as 35 semanas e 3 dedos de dilatação desde as 38 semanas.


Durante o almoço no Mac o Duarte voltou a dizer "mãe eu gostava que o mano nascesse amanhã" e eu respondi "oh filho, a mamã acha que só por milagre".


O PARTO


Eram 2h50 quando acordei com a bolsa a rebentar. Soube logo o que era, apesar de no meu primeiro parto não ter acontecido. Acordei o Diogo e começamos a despachar-nos para sair de casa. Chamámos o familiar mais próximo para ficar com o Duarte que dormia tranquilamente. Tomei um bom duche, o Diogo também. Enchi o Duarte de beijinhos, num misto de receio das próximas horas e alegria por o desejo dele se estar a concretizar, pegámos nas malas e saímos. 

 [já estava no carro e ainda voltei atrás para ir buscar um pacote de leite, no primeiro parto passei fome e tive uma grande hipotensão, neste quis ir mais aconchegada] 
Cheguei ao Hospital Beatriz Ângelo pelas 04h ainda sem qualquer dor. O resto da bolsa rebentou no corredor a caminho da triagem. Eram 04h20 quando veio a primeira contração com dor, 04h24 quando veio a segunda, 04h26h a próxima (2m em 2m) e fui chamada para entrar.

  A primeira coisa que ouvi foi "não temos vaga para si, vai ter que ser transferida para o Hospital Santa Maria". 
Caiu-me tudo. Sabia que podia acontecer, mas a probabilidade era baixa. Bolas. 

Mesmo assim fui vista como manda o protocolo e já tinha 4 dedos de dilatação. Voltei à sala de urgência num misto de dores e incerteza para aguardar ser chamada pelo médico para tratarmos da transferência. 


As contrações mantinham-se de 2m em 2m e senti verdadeiramente que não íamos ter tempo de chegar a algum lado e que ele ia nascer na A8 ou no Eixo Norte-Sul dentro de uma ambulância e sem epidural. O tempo que no primeiro parto foi um obstáculo, neste parecia escapar-me pela mãos. Estava tudo a acontecer a um ritmo supersónico. 

Pelas 4h45 sou vista pelo médico de serviço e deu-se ma reviravolta. Já tinha 5 dedos de dilatação, quase 6, e oiço as palavras mágicas "você já não sai daqui, vamos ter que tirar alguém do bloco porque tem que entrar já". O Xavier vinha cheio de pressa e vontade, sem tempo para burocracias ou transferências hospitalares.

 
Mudei de roupa, assinei os termos de responsabilidade legais com todas as dores desta vida e fui para o bloco. Nem lhes posso chamar assinatura, deixei lá uns rascunhos pré-históricos. Assim que entrei no bloco, pedi para chamarem a anestesista para administrar a epidural que levei já no limite dos 8 dedos. Não fez o efeito imediato e completo que me fez no parto do Duarte mas senti a intensidade das dores a abrandar. Esperámos apenas pelos 10 minutos especáveis para a epidural fazer efeito para avançar enquanto o Diogo vinha ao meu encontro no bloco. Ele entrou e 5 minutos depois iniciou-se a fase de expulsão com a ajuda espetacular da enfermeira parteira Bruna. Das pessoas mais humanas com quem já me cruzei em contexto hospitalar, o meu enorme agradecimento por tudo. Às 6h20 o meu canguru estava cá fora e foi tudo maravilhoso.  


Desta vez senti as dores e assisti à expulsão, desta vez tive direito a bebé no colo, desta vez o pai cortou o cordão, desta vez beijei, senti e cheirei o meu filho acabado de nascer. Desta vez, não achei que ir ter um filho é sofrer horrores, desta vez, estive consciente de tudo, desta vez, renasci e fiz as pazes com a maternidade.


Desta vez, a mãe quase não teve tempo de levar epidural e o pai nem teve tempo de vestir a bata hospitalar. Desta vez tive apenas uma enfermeira parteira no bloco e não toda a equipa médica em alvoroço.  Desta vez, tive uma enfermeira parteira que teve o cuidado de me perguntar se preferia ser tratada por Mónica ou por Raquel. Desta vez, tive uma enfermeira parteira que quis deixar o cordão umbilical pulsar até ao fim, sem eu pedir nada. 


Desta vez não criei expectativas de nada e a a vida surpreendeu-me. Só quem já passou por um parto difícil e viu a vida por um fio sabe o poder de renascimento de um parto maravilha. 


Este pós-parto está a ser também bem mais fácil. A nível fisico só os Kgs extra me lembram que fui mamã à menos de um mês. Um pós parto 90% mais fácil que o primeiro. A quem ainda está à espera de ter bebé, só vos posso desejar um igual ou melhor. 

Sobre a segunda experiência no Hospital Beatriz Ângelo posso dizer que foi bem mais positiva e que fomos bem acompanhados nas 48h que lá estivemos. As condições dos quartos já sabia serem boas e dão tudo às mamãs (lençol de banho, pensos, cuecas, camisas de dormir, conselhos de amamentação, mantinha para os bebes, etc). Os bebés saiem já com a primeira vacina e com o rastreio auditivo feito. Deixo aqui um beijinho muito especial à enfermeira Nuria que deu o primeiro banho ao Xavier. 
Foram as melhores 2 horas da minha vida.
Renasci ali naquela maca onde acreditei morrer da primeira vez.  


Beijos desta mãe de dois, realizada e feliz!