BabyTime: #DEIXAR O PARTO ACONTECER OU PROGRAMAR?

#DEIXAR O PARTO ACONTECER OU PROGRAMAR?

19 fevereiro 2018



Ontem abordei a questão ao de leve no Instagram. Não com o objetivo de levantar polémica ou atacar quem pede cesariana ou parto induzido, mas de refletir sobre o tema. Antigamente os bebés nasciam quando decidiam, agora é cada vez mais recorrente nascerem quando é mais conveniente. Será que ir contra a vontade do corpo é a decisão certa para facilitar o parto e proteger mãe e filho? Muitas mulheres só conseguem assumir a maternidade desta forma, com data e hora programada, outras deixam o ciclo ir até ao fim sem problemas. Por um lado, ainda bem que existe democratização do parto, mas por outro, será que as mães conhecem todas as entrelinhas das cesarianas e dos partos induzidos sem necessidade clínica? Todas sabemos que entre a verdadeira necessidade clínica e a conveniência existem muitos partos a ser feitos. 

Vou ter o Xavier onde tive o Duarte, expeto senão tiverem vagas, no Hospital Beatriz Ângelo, o hospital público com a menor taxa de cesarianas do pais. Um sitio que parece raro pois tudo o que vejo à minha volta são partos por encomenda "porque o bebé é grande", "porque a médica acha que não vou conseguir dilatar", "porque não quero passar das 38 semanas", "porque disse logo que só tinha filhos assim". Eu também tenho medo. Alias, eu sofro de ansiedade generalizada cujos sintomas nem vale a pena repetir. Condicionam-me a vida há anos. E, como todas as pessoas, também gosto de ter a vida mais ou menos controlada, mas nesta questão do parto sinto (e é uma coisa muito minha) que não devo intervir e que devo respeitar o percurso natural das coisas. E desenganem-se sobre a forma como encaramos a parto: as mães de segunda viagem têm tantos medos e anseios quanto as de primeira, ou mais, porque já não vamos às cegas. 

O Duarte nasceu com 51cm e 4.090kg e nunca me disseram em momento algum da gravidez e com tantas ecografias feitas "olhe que ele é muito grande, o melhor é ser cesariana". Parece haver agora uma moda de marcar cesarianas por percentis, se a estimativa é que o bebé vai ser grande o melhor é pô-lo cá fora antes via cesariana ou indução. Serei eu a única pessoa a ter médicos normais? Que não impõem formatos de nascimento ou que não se deixam levar por pedidos? Às vezes quando ando pelos fóruns sinto-me um alien, aquela que não tem nada combinado com a Obstetra. Uma coisa tão comum nos privados. 

Logo a seguir e, nem de propósito, vejo a noticia da Organização Mundial de Saúde veiculada na sexta-feira a recomendar que o parto seja menos mecanizado e mais humanizado, a menos que existam riscos e complicações.  As novas diretrizes da OMS contestam a forma como os partos estão a ser conduzidos e sugerem que cada situação seja encarada como única, eliminando-se a referência padrão de 1cm de dilatação por hora na primeira fase do TP (trabalho de parto), pois lá está cada caso é um caso. 

É curioso, mas o meu primeiro parto foi assim. Natural, de evolução lenta não minto e sem intervenção médica para acelerar o organismo. Entrei em TP às 39 semanas e 6 dias, ele nasceu no dia das 40 semanas. Na altura e no pós-parto contestei a decisão dos médicos terem deixado evoluir  naturalmente o meu trabalho de parto que durou 2 dias, uma vez que já estava no fim do tempo. Não é fácil e achava que deviam ter feito algo por mim, que me deviam ter administrado oxitocina para acelerar o processo e evitar prolongar o sofrimento. Mas nem sempre a oxitocina funciona e às vezes trás complicações. Tinha tanta vontade de o conhecer que todas as horas me pareciam anos. Mas a verdade é que as verdadeiras horas de sofrimento não foram os 2 dias, foram as 10/12 horas de dilatação demorada antes de ir para o bloco e que no bloco não sofri dores. Pedi epidural e aceitaram a minha decisão embora me tenham dito que achavam que eu era capaz de avançar sem. Respeitaram-me. 

O único senão, a parte mais díficil no meu parto no HBA, por ter ficado em regime de internamento durante a dilatação e não no bloco de partos, foi ter ficado sozinha. É arrasador psicologicamente não termos ninguém da nossa confiança, da nossa esfera privada ao nosso lado. O marido, a mãe, a tia, a cunhada, alguém que ajude a suportar aquelas horas de sofrimento enquanto estamos a dilatar e precisamos de suporte psicicológio e estímulos positivos. O Diogo foi obrigado a sair às 20h do quarto e só o voltei a ver no dia seguinte às 11h, já no bloco de partos e com epidural administrada. Acredito e sei que muitas mulheres preferem usar os seguros de saúde e fazer cesarianas no privado por tudo isto. 

Entre os banhos, a bola de pilates e as caminhadas no corredor chorei muito, sentia-me mais sozinha do que nunca no momento mais grandioso e paralelamente mais duro da minha vida. Não há aparelho, enfermeira ou TV que substituam a presença de alguém de confiança. E nisso os hospitais públicos ainda tem uma longa caminhada pela frente. Essa é também uma das novas recomendações da Organização Mundial de Saúde "o direito a ter um acompanhante à sua escolha durante o trabalho de parto e respeito pelas opções e tomada de decisão da mulher", não sei se a posso evocar no parto do Xavier, ou se irei ficar internada novamente e nessa situação, mas gostava que essa vontade fosse respeitada. É fundamental.

Quanto ao parto do Xavier, vou seguir o meu instinto de deixar a natureza decidir.  Não tenho nem um plano de parto feito nem expectativas criadas, espero apenas que sejam profissionais conscientes e que façam o melhor por nós para virmos para casa o mais rápido possível juntar-nos à família.

E por aí, como encaram esta questão?