BabyTime: #SUPERNANNY: SERÁ QUE AQUELA MÃE SABIA AO QUE IA?!

#SUPERNANNY: SERÁ QUE AQUELA MÃE SABIA AO QUE IA?!

16 janeiro 2018


Aiiii…contem-me lá? Viram? Não viram? Já foram depois de tanto burburinho à volta do tema? 

Eu vi. O Diogo viu. O Duarte viu. Todos vimos. Não tinha conhecimento algum sobre o programa SuperNanny, nem sobre a sua já existência no estrangeiro. Vejo pouca TV, que se resume a notícias, desenhos animados ou séries gravadas. Gosto mais de ler. Mas no domingo calhou estarmos na sala num momento de lazer enquanto o Duarte brincava e o programa começou. Ficámos intrigados com o teaser e já não deu para mudar de canal, além de termos visto logo a nossa terra (Loures) a aparecer em imagem aérea e inevitavelmente prendeu-nos a atenção.

Seguiram-se momentos de perplexidade. Fiquei logo de pé atrás com o conteúdo e a forma leviana (e perigosa) como toda aquela família (e as que virão) aceitaram ser expostas. E confesso que nem gostei muito que o meu pequeno teimoso tivesse visto, até ele ficou intrigado com o comportamento. Ficámos a conhecer a Margarida, que bate na mãe quando é contrariada e lhe chama estúpida. Que tem um feitio autoritário, não ajuda em casa e lida mal com as regras. Ficamos a conhecer a mãe, que assume uma educação monoparental e revela alguma insegurança e muita vulnerabilidade perante a personalidade vincada da filha e a avó materna que dá os típicos conselhos de quem nasceu noutra geração (tal como as minhas avós). No fundo, uma família comum a enfrentar obstáculos na educação e com sérios problemas na hierarquia. Era notório quem mandava naquela casa -  a pequena Margarida! 

A seguir, entra em ação a psicóloga Teresa Paula Marques (a SuperNanny) com postura de "deixa-me lá domar mais uma criancinha" como se estivéssemos a assistir ao programa o "Encantador de Cães", da Sic Mulher, mas em versão humana. 

Todo o conceito do programa é mau. Começando no formato em si, altamente exploratório, ao conteúdo, demasiado invasivo da privacidade, mas ainda assim consentido por toda a família. Como? O que leva alguém a despir-se dessa forma na TV? Dinheiro? Desconfio seriamente que a motivação tem euros no fim e alguma encenação à mistura. Mas ainda assim, será que aquela mãe sabia ao que ia??! 

Bem sei (por experiência própria) que as birras existem e que há senhoras birras, que existem crianças mais difíceis do que outras, mais desafiantes, que há pais que se vêm aflitos para dar a volta aos filhos, mas, não minha humilde opinião de mãe, não é no formato de um programa televiso deste género que eu depositaria a minha fé para resolver uma situação mais difícil cá de casa, caso tivéssemos um filho assim, espero por tudo que nunca nos aconteça, mas não estamos livres é um facto.

Mas vamos voltar à psicóloga, que ou muito me engano, ou vai espetar o mesmo modelo de educação a todos os miúdos do programa como se todas as crianças fossem iguais, quais robots intransigentes que apenas precisam de ser afinados. 

E a durabilidade dos métodos aplicados? Balelas. A educação não é estática e apresenta obstáculos a cada etapa de crescimento, a formula mágica não existe. A Margarida terminou o programa a ajudar a mãe a varrer a cozinha, mas basta ter ido hoje à escola e ser gozada pelos coleguinhas para chegar a casa e enfiar-se no quarto com uma crise existencial.  Sou só eu a achar isso? Alguém acha que ela ficou educada para sempre? Estou desejosa de ler a opinião de psicólogos. 

E a imagem perante os amigos, os pais dos amigos (vão querer continuar a convida-la para ir lá a casa brincar?). E os professores? E o contexto social da mãe? O que terão achado os colegas de trabalho perante a mãe que não tem mão da filha? Sabemos bem como podem ser cruéis as pessoas. 

Não gosto de criticar a educação que as mães dão aos filhos, todos temos telhados de vidro, mas sinto que existe nos pais modernos uma enorme dificuldade em aplicar a palavra “NÃO” na educação e em perceber que os miúdos também têm que passar pela frustração para se formarem e prepararem a vida adulta. Eles não vão ficar traumatizados para a vida porque não trouxeram o brinquedo xpto do supermercado ou porque não comeram o 2º chocolate. Choram, esperneiam, libertam a raiva e passa. Já aqui falei no blog sobre os filhos patrões, em colaboração com a Psicóloga Irina Vaz Mestre, e sobre formas para contornar esta questão do autoritarismo na infância, porque ele existe mais tarde ou mais cedo. 

Outra coisa que me inquietou: será que, em situações futuras, a mãe vai ter capacidade de se interrogar e perceber o que está a correr mal? O sistema de compensação é falível, mais tarde ou mais cedo a Margarida (ou outro miúdo qualquer vão contornar a questão com habilidade). Aquela mãe precisava de um acompanhamento superiror a uma semana de gravações. Não é a mesma coisa  do "Querido, Mudei a Casa" em que basta chegar ali, dar um refresh à decoração e já está. 

A parentalidade consciente envolve autoconhecimento, interrogação e reflexão. Quando os filhos são pequenos e choram é fácil, ou é fome, ou sono ou a fralda suja. Mas quando crescem o desafio aumenta e temos que continuar a interrogar-nos sobre as ações e refletir sobre elas para atuar da melhor forma em conjunto. E definitivamente, para mim, um programa que expõe desta forma a intimidade não é um role model.  Estes assuntos são para resolver em privado. 

A única coisa boa no meio de todo o programa é o não incentivo à palmada (e o facto de mostrar a alguns pais mais confusos quem deve ter o papel ativo na educação), que no caso da Margarida era recurso por imitação. A mãe batia, a Mariana batia, somos sempre um modelo para eles. Eu própria quando grito, fico-me a sentir mal pois sei que se ele gritar é por mea culpa. Tudo o resto passou por chantagem e negociação.  

O único ponto positivo é que o Duarte esteve muito atendo a tudo e ficou a achar que caso se porte mal vem cá uma senhora a casa ralhar com ele e mete-lo em sentido. Coincidência ou não, ontem trouxe uma bolinha verde de comportamento da escola. 

E por aí, o que acharam do SuperNanny?