BabyTime: #A GRAVIDEZ, AS PRIORIDADES E O "VOU FINGIR QUE NÃO VI"

#A GRAVIDEZ, AS PRIORIDADES E O "VOU FINGIR QUE NÃO VI"

12 novembro 2017


É um dado curioso este com que me tenho deparado sobre a prioridade das grávidas. Sinto que as coisas mudaram desde a última gravidez (há 5 anos), mas não propriamente para melhor, o que não me faz muito sentido, até porque a lei mudou recentemente.
"A nova legislação veio obrigar "todas as entidades públicas e privadas que prestem atendimento presencial ao público" a "prestar atendimento prioritário às pessoas com deficiência ou incapacidade, pessoas idosas, grávidas e pessoas acompanhadas de crianças de colo" - in Público, 29 de junho de 2017

Em 5 meses de gravidez, quase 6, nenhuma, repito nenhuma pessoa se mostou disponíviel para de livre vontade me dar cedência de passagem numa fila. Existe uma tendência recorrende para desviar o olhar e fingir que não se viu. A única vez que neste tempo passei à frente de alguém foi no Aldi, abriu uma nova caixa e durante o processo do "podem dirigir-se à caixa pela mesma ordem" eu que só ia pagar 1L de leite pedi gentilmente ao senhor para passar, ainda assim não me livrei de ouvir "a ordem não era essa, mas pronto". A senhora que o acompanhava pediu desculpa pela falta de sensibilidade, eu dei a resposta banal do "não faz mal" porque não estava para me chatear e a barriga é evidente. 

A verdade é que parece existir um desconforto com as grávidas ou com todas as pessoas no geral que apresentem algum sinal de proridade. Sim, é verdade é que não estamos doentes, mas temos menos capacidade para carregar pesos, nem todas podemos estar muito tempo em pé, etc, etc. Quanto a mim, não sei porquê mas tenho uma queda para as quebras de tensão  no supermercado, mas não posso deixar de governar a casa. 

Sei que este post é daqueles que causa comichão... até podem achar que estou aqui a fazer o papel de grávida refilona e sindicalista dos seus direitos, mas nem é nada disso. É mesmo um texto reflexivo sobre o estado da sociedade no que toca a civismo. Sou o tipo de pessoa que gosta de passar despercebida, que até nem se importa de esperar na fila, que não gosta de exibir a barriga para fazer valer os direitos, às vezes até sou parva e tento ainda disfarça-la só para não ter que ter passar pelos olhares de desconforto na hora de passar à frente (coisa que ainda não aconteceu). O que me custa não é o "não me despachar mais cedo do supermercado", tenho que lá perder tempo de qualquer maneira, o que custa é a percepção com que fico sobre a falta de civismo. A quantidade de pessoas que vira a cara e desvia o olhar para "não ter que dar passagem" é incrível.

Lembro-me de na gravidez do Duarte até os empregados de caixa terem inclusivamente essa atenção extra para com quem está na fila, agora como a nova lei dita que é a grávida ou a pessoa inválida que deve informar o empregado talvez assumam que não têm que ter esse papel (e na verdade não têm, vai da boa fé de quem está na fila, mas era facilitador). O problema é que muitas vezes nem a propria caixa é dotada de espaço suficiente para a gravida passar com o cesto das compras e ir informar o empregado.

A diferença que sinto de 2012 para agora é que todas as caixas (ou quase todas) têm indicação de cedência de prioridade (através de um aviso na caixa, nem sempre muito visível) ao invês de só uma destinada para o efeito, o que em termos legais é bom, presume-se que todas as pessoas são atendidas da melhor forma, mas em termos práticos esse dado faz com que pessoas dispersem e nem se apercebam que todas são agora caixas prioritárias (acredito que muitas pessoas ainda pensem que não estão na prioritária e por isso não têm de ceder passagem). 

Quando estou perante uma fila de gente, a sensação com que fico quando penso que vou assumir a barriga e passar à frente de toda uma fila é a de "lá vai a xica-esperta" e então nunca o faço, nem sei se até aos 9 meses farei, a menos que alguém ceda o lugar, eu não sou de me impor e chegar à frente, cada um tem a sua maneira de ser, a minha é assim. Contida e reservada. Por isso, tirando farmácias e hospitais, onde sempre foi hábito as grávidas terem prioridade, noto que existe menos atenção e menos predisposição para com quem precisa.

Posso estar enganada, mas é a vida real com que me tenho deparado pelos locais que frequento. Teremos que passar a andar com um dístico para mudar mentalidades?