27 março 2017

#SOBRE O DESRESPEITO PELAS MÃES!

 
Tenho muito respeito pela classe médica, mas às vezes sinto que existe um desagradável desrespeito ou preconceito com as mães. Quantas vezes não vamos ao médico e desvalorizam os sintomas dos nossos filhos? Quantas vezes nos fazem sentir exageradas ou nos tecem juízos de valor sem tampouco nos ouvirem ou consultarem o histórico da criança? Foi isso que aconteceu ontem e raios partam o meu mau feitio, mas não consigo ficar calada. Já escrevi e apaguei este post, já pensei e repensei sobre se o devia publicar, mas este espaço é meu e a liberdade de expressão existe para alguma coisa. 

Levar as crianças a um episódio de urgências num hospital público e ser bem atendido devia ser uma questão matemática, mas infelizmente é uma questão de sorte. Ontem fui para o hospital com o Duarte as 9h da manhã por indicação da pediatra. Estava pronta para ir para o trabalho quando ele começou a sangrar sem parar do nariz, e consequentemente pela boca. Enquanto chorava atrapalhado por estar a engolir sangue, sujou a cama, uma fralda inteira de pano que tinha à mão e lenços de papel sem conta que fui tirando do pacote até esgotarem e ter que ir ao WC buscar o rolo de papel higiénico. Esta situação não é nova para mim, ele tem a(s) veia(s) da narina direita muito sensíveis e sangra com demasiada facilidade, tanta que desde bebé não lhe posso pôr sequer soro quando está constipado para ajudar a descongestionar. Eu sei disso, a pediatra que o acompanha desde o 1º mês de vida também, na creche (de onde já me chegaram a ligar aflitas) sabem disso, precisamente para evitar que estranhem a situação quando ela se dá. O Duarte sangra com tamanha predisposição que basta bater ao de leve em algo, mergulhar com mais força nas aulas de natação ou simplesmente assoar o nariz para desencadear um fluxo enorme de sangue e ter que ficar em stand bye uns 30 minutos até estancar. Não é uma doença, mas não deixa de ser uma condicionante física. Já cheguei a estar parada à beira da estrada mais de 20 minutos a caminho da escola para lhe estancar o sangue do nariz que começou a verter do nada. Ele fica atrapalhado e nervoso com a quantidade que vê cair e engole e quanto mais velho está pior, a quantidade de sangue é mais e ele tem mais consciência do que se passa. Eu digo-lhe sempre que é normal e que acontece aos meninos de vez em quando para o tranquilizar e para não lhe passar tensão. Na consulta dos 4 anos, a pediatra indicou-me que no próximo grande episódio destes me dirigisse de imediato às urgências para lhe realizarem uma cauterização.

Aconteceu ontem um novo episódio de sangramento nasal e arranquei com ele, ainda de pijama, para o hospital, por indicação médica, pois segundo me explicou só no momento do sangramento conseguem detetar qual a veia que causa o problema para a selarem. Era meu objetivo enquanto mãe solucionar este problema. E como a frustração ainda não me passou voltei aqui para terminar o rascunho que ontem deixei em aberto. Isto não é mais do que espelhar o que acontece a tantas mães nas salas de urgência de um hospital público. 

Após a triagem, onde ainda sangrava, e 1h de espera para ir tirar sangue para análises e mais 2h30 de espera pelos resultados de coagulação ao sangue para despiste de algum problema desconhecido, subimos, finalmente para a especialidade de otorrinolaringologia pelas 15h. Após 6 horas à espera a tão esperada consulta na especialidade não demorou mais do que 10 minutos e resumiu-se a um médico que me tratou como se eu fosse a mãe mais galinha/exagerada do mundo e teve início com a seguinte desagradável e insultuosa frase "vamos-te lá ver Duarte que a tua mãe está muito preocupada". Gostava de saber de onde me conhece o Dr. para me fazer este juízo de valor? Consultou a ficha do Duarte? Viu que no historial dele são, felizmente, muito poucas as idas ao hospital? Não sabe, mas o Duarte esteve dos 3 aos 4 anos sem precisar de consultar a pediatra, 12 meses sem ir a correr para o médico, veja lá o quão galinha sou que até tive que os apresentar novamente um ao outro. Aconteceu o mesmo dos 2 aos 3 anos, imagine a sorte! De seguida, continuou "sabe que ele pode ter feito isto a ele próprio ao meter os dedos no nariz?" ao que eu perguntei "foi isso que fizeste hoje de manhã filho?" e ouvi um "oh mãe não pergunte isso à criança porque ele não sabe responder". Oi? Espera lá, o meu filho que sabe o alfabeto de A a Z, que sabe escrever o nome todo com 4 anos, que sabe dizer todas as equipas de futebol da I Liga só pelo símbolo não me sabe responder se tirou macacos do nariz?? Mau seria! Teria que o encaminhar já para uma consulta de desenvolvimento. 

Como já perceberam, a coisa começou a descambar, a minha energia após 6 horas de hospital deve ter instalado um estado de estupidez em mim (acontece-me sempre que sou mal atendida por alguém) que não me fez reagir de forma mais exigente. Ainda assim e de forma curta e grossa (pois já sabemos que médicos assim não estão para nos ouvir) expliquei-lhe tudo: que é frequente, que acontece todas as semanas, que tinha indicação médica para me dirigir ao hospital no próximo episódio e bla bla bla. Em frente a mim e sempre num registo irónico e duvidoso da minha palavra, estas foram as sugestões apresentadas: a) ficar no hospital à espera de novo sangramento para efetuar a selagem b) voltar num próximo episódio (recusei de imediato essa opção com todas as letras, deixei bem claro que isso foi o que fiz ontem) ou c) ficar em lista de espera para ser seguido na especialidade. 

Seis horas de espera para desvalorizar por completo o meu papel de mãe. Ninguém vai passar 7 horas ao hospital porque se está lá bem, de rabo sentado nas cadeiras aos quadradinhos a massajar a celulite. Para isso, até tenho um ginásio muito bom com uma coisa chamada Spa e que ainda tem uma rica sauna nos balneários. Gostava que a classe médica ao invés de tecer juízos de valor sem fundamento às mães e nos despachar em 10 minutos de uma consulta sem aprofundar conhecimentos sobre o paciente, se dedicasse de forma igual a solucionar os problemas. Não é para isso que existe a medicina? Quando uma mãe consciente se dirige ao hospital com um filho é porque o conhece melhor do que ninguém e sabe que algo não está bem ou está diferente. Noites de febre, ranho, e tosse são peanuts para nós. Quando vamos é à séria. Não vamos perder tempo ao hospital só para nos passarem um atestado de burrice, incapacidade ou exagero. 

Tendo sido ontem segunda-feira, estaria o Dr. com uma espécie de monday blues e era chato fazer a cauterização? 

Sabem como terminou o dia? Deixo-vos o resumo mais real possível:


Ou seja, é para resolver no privado. Este não é um reflexo de todos os médicos, mas infelizmente em urgências pediátricas é um padrão habitual: observar a criança, desvalorizar a situação com frases dirigidas às mães e manda-la para casa. 
 
Pronto, deitei cá para fora!