BabyTime: #DESABAFOS: QUANDO EDUCAR DÓI

#DESABAFOS: QUANDO EDUCAR DÓI

24 março 2017

Esta semana recebi uma notícia que me deixou profundamente triste. Tão triste que ainda não consegui contar, por exemplo, aos meus pais (calma que não é nenhum drama daqueles). Mas sou assim, quando me dói cá dentro fico calada. Escolho o silêncio. Preciso dele para assimilar, pensar, repensar e por fim, conseguir soltar as primeiras palavras. Tão triste que o Diogo quase chorou com a situação (sim, os pais também sofrem não são só as mães). A creche do Duarte que tanto adoro, que preenche todos os requisitos e mais alguns que sempre idealizei para um filho vai fechar. Aos olhos de quem está de fora sei que pode parecer um exagero extremo de mãe, afinal de contas ele iria ter que sair de lá um dia para ir para a primária, mas não contava que fosse desta forma. Assim tiraram-me o tapete, o porto seguro, o sitio onde já desenvolveu a sua primeira grande amizade, as 4 paredes onde deixo a minha vida entregue todos os dias de manhã com um abraço e um xoxo (sim, somos esse tipo de mãe e filho que mete nojo a alguns). 
Isto até podia não ser um problema caso ele já tivesse os 5 anos feitos, até porque o passo seguinte é a escola primária, mas acaba por ser um problema pois implica uma mudança forçada do seu ambiente habitual por 1 ano para um novo colégio/creche/jardim de infância (o que aparecer de melhor) e uma outra (para a primária) quanto ele já estiver novamente a assentar raízes. Ou seja, 2 mudanças de amigos, educadoras e escola nos próximos anos. Gostava de conseguir relativizar, mas não consigo. O cérebro tenta mas o coração não deixa. Sei o que me custou a mim a mudança de ambiente com a idade dele e conheço-o bem, sei o quanto ele é apegado às pessoas de que gosta, aos amigos escolhidos a dedo e ao espaço onde está presentemente. E depois, foram 4 anos muito bons e nunca é fácil desapegarmo-nos de algo de que gostamos. 
Ao lerem este primeiro parágrafo devem achar que ele anda num daqueles colégios caríssimos e TOP. Não é nada disso. Ele não anda na melhor escola do país, eu não sou extremamente exigente com a educação (não tem que ser o colégio bilingue xpto ou a escola de educação com a corrente alternativa x e y). Ele anda num colégio na periferia da cidade que tem espaços verdes, montes de espaço exterior para brincar, animais à volta (ovelhas, gansos, patos), os muros não são grades, o horizonte não são prédios e o teto é o céu. É a educação livre e não enjaulada que tantos idealizam para os filhos e que, até há uma semana atrás, era o sitio onde eu imaginava que o Duarte ia ficar até ir para a primária. Não o mostro por questões de privacidade do Duarte, mas bastava uma imagem para perceberem onde quero chegar. 
Sinto-me perdida (alias, sentimo-nos porque para o Diogo o choque está a ser igual sem tirar nem pôr), não só porque temos que definir um plano nos próximos tempos para lhe poder dar a notícia (ele ainda não sabe) como vamos ter que cortar o cordão umbilical com aquela que foi a sua primeira casa depois da nossa. O plano A é inscrevê-lo já no ensino público e ter esperança que com 4 anos e apenas a fazer os 5 em janeiro de 2018 reste alguma vaga na pré-primária para ele (e já agora para o seu melhor amigo dele) já que todos os mais velhos e a completar os 5 até dez de 2018 têm prioridade. O plano B procurar um novo colégio (que implica pagar inscrição) para servir precisamente de plano B ao plano A caso não entre em nenhuma das escolas mais próximas de casa. 
O colégio dele na realidade não vai bem fechar, vai, por motivos que não interessam expor aqui, mudar de instalações, de localização e de dimensão. A nova localização é a minha última opção por questões logísticas matinais, pelo que só se o A e o B falharem, entrará em ação o plano C (continuar no mesmo num local que, a meu ver, em nada se compara). 
Ainda me lembro do primeiro dia em que lá entrei, aos 3 meses do Duarte, para fazer a visita técnica ao espaço, ficou logo mais do que escolhido, quem já lá foi (tenho feito sempre lá as festas de anos do Duarte), diz e sabe que não existe nada nas redondezas àquele nível. E é também por saber disso de antemão que ainda me doí mais esta mudança. 
Em breve, vou ter que lhe explicar com calma que a escola vai fechar, que vai ter que se despedir da educadora, da primeira namorada, quiçá do melhor amigo (vou fazer de tudo para que não tenham que se separar) e do espaço onde aprendeu a andar, a correr, a balouçar, a jogar à bola, a rasgar calças, a fazer piqueniques no verão, a andar de triciclo, a festejar o S. Martinho e o Sto. António com arraiais na rua para pais e filhos, a pintar, a escrever o seu nome e tantas outras coisas que ficam por escrever porque já me correm as lágrimas. 

Educar, às vezes, também dói. Não é uma dor física, mas não doendo quase que.