BabyTime: #(COOL)ABORAÇÕES | PSICÓLOGA IRINA VAZ MESTRE | MOSTRAS-ME O TEU PIPI?

#(COOL)ABORAÇÕES | PSICÓLOGA IRINA VAZ MESTRE | MOSTRAS-ME O TEU PIPI?

08 novembro 2016


Texto: Raquel Rodrigues
Colaboração: Irina Vaz Mestre, Psicóloga e Autora do Blog Voltar à Estaca Zero

Bolinha vermelha no canto do post que hoje o tema é delicado – sexualidade infantil em idade pré-escolar

Não é fácil de abordar e a maioria dos pais (como eu) ficam meio atordoados na hora de arranjar a melhor explicação para os temas da sexualidade e das diferenças de sexos. Lá em casa ainda estamos na fase do “mãe porque é que tens maminhas?”, “mãe, o teu xixi sai por onde?”, “mãe tu tens pipi e eu pilinha e rabo, não é?”. Até aqui, tudo aparentemente fácil de explicar “os meninos têm pilinha como os papás e as mamãs e as meninas têm um pipi porque somos diferentes, é isso que nos distingue uns dos outros” e a caravana passa. A creche e as educadoras também têm um papel fundamental nesta área. 

MAS, E QUANDO ELES COMEÇAM A QUERER EXPLORAR-SE? 


(EU PERGUNTO, A IRINA EXPLICA)

No caso das meninas, tenho casos próximos de amigas com filhas da idade do Duarte que já começaram a querer explorar o clitóris e mexem com frequência. O que fazer enquanto pais? Qual a melhor atitude? Permitir ou repreender?
Irina: Na realidade, desde bebés que o interesse e a exploração sexual existe, porque isso faz parte da natureza humana e é saudável que assim seja. Quem não se lembra da fase em que estamos a mudar a fralda aos nossos bebés e eles só querem tocar no pipi ou na pilinha e, muitas vezes, já com cremes postos, tudo vira uma grande confusão – roupa limpa cheia de creme, pernas, cara. Freud foi um dos autores que teorizou sobre o assunto, quando se referiu às 5 etapas do desenvolvimento psicossexual, que, segundo o mesmo, se inicia logo nos primeiros meses de vida, com a etapa oral. É importante que se entenda a sexualidade como algo natural e como uma das principais vertentes da energia vital que move o comportamento do Ser Humano; por isso, a melhor atitude a tomar é mesmo não repreender e agir da forma mais serena possível, sem comentários depreciativos que na sua origem tentam reprimir o comportamento.
No caso dos meninos, o Duarte já percebeu que mexer na pilinha a faz crescer e diz “olha como ela ficou”. Devemos ignorar e deixar explorarem livremente? Devemos impor limites? Por exemplo, se for só durante o banho, devemos deixa-los livres para se auto-conhecerem ou limitar?

Irina: Tal como acima já foi referido, devemos encarar a exploração como algo que faz parte do desenvolvimento de qualquer Ser Humano. De uma forma geral, e para não criar tabus acerca de uma temática que não pode ser tabu, com todos os efeitos negativos que isso acarreta, devemos entender essa necessidade e, sempre que o contexto permitir, ignorar o comportamento. Por ignorar entenda-se não fazer comentários inibidores - “Não faças isso que é feio” “Pára de mexer aí” ou “Isso não se deve fazer” e agir naturalmente, continuando o que estamos a fazer - no exemplo do banho, continuando a dar o banho. No entanto, existem crianças que exploram o seu corpo de forma mais discreta e outras que evidenciam um comportamento de exploração psicossexual mais desinibido. Nestes casos, e mantendo uma atitude tranquila, serena e sem cariz repreendedor, devemos falar abertamente sobre o assunto e explicar às crianças a importância de manter a privacidade, porque também isso significa respeitar o espaço de cada um de nós – o nosso e o do outro. Quando assim é, então, está tudo bem!   

E QUANDO O TEMA TRANSITA PARA A ESCOLA 
“MOSTRAS-ME O TEU PIPI?”

Aqui é que a coisa faz tremer os pais, quando na salinha pré-escolar começam inocentemente a querer aprofundar os conhecimentos sobre as suas diferenças. Há umas semanas atrás uma amiga (que vou manter anónima) partilhava que um menino da turma da filha lhe pediu para ela lhe mostrar o pipi – e ela mostrou. A menina contou isto em casa aos pais durante o jantar e eles ficaram perplexos e aflitos (eu também ficaria!!) e como mãe de um rapaz o meu pensamento foi “e se aquele fosse o meu filho?”. Como explicar a uma menina de 3 anos que deve preservar a sua sexualidade? E como mãe do rapaz, como educá-lo sexualmente para evitar estes atrevimentos? (Irina, a batata quente está nas tuas mãos).
Irina: Mais uma vez a palavra de ordem é: Naturalidade. Quando estes assuntos começam a surgir nas nossas casas, e entre os nossos filhos, o que verificamos com muita frequência é que, pelo desconforto que isso cria, a primeira tendência dos pais é fingir que não houve a fatídica pergunta ou reagir a episódios desses com um rápido “isso não se faz, é feio mostrar o nosso corpo aos outros”. Achamos que o assunto morre por ali e fica encerrado, o que de certa forma nos deixa bem aliviados. A minha dica aqui é precisamente o oposto de tudo isto: logo que o assunto surja em vossas casas, aproveitem para falar sobre ele. Percebam que chegou a altura, e que as vossas crianças estão preparadas para falar sobre isso. Caso contrário, não questionariam. O facto de questionarem significa que alguma vez já pensaram sobre o assunto ou já vivenciaram assuntos relacionados com a pergunta ou história que vos contam. Comprem livros adequados à faixa etária, leiam em conjunto, respondam a todas as questões que forem colocadas. Deixo uma estratégia bem útil, para aquelas questões que são particularmente mais difíceis. Em vez de responderem logo, façam uma contra pergunta. Questionem “E tu, o que achas?” “Como achas que será?”. Assim, a partir da resposta que a criança vos der, podem adequar a vossa própria resposta ao que a criança está pronta para receber desse lado. Isto permite-nos entrar no mundo delas e perceber, muitas vezes, a forma como pensam e como processam a informação. Para finalizar, existe outro assunto que julgo que todos os pais devem deixar bem claro aos seus filhos – sejam meninas ou meninos, e que diz respeito ao facto de, sempre que o nosso coração se sentir desconfortável com determinada coisa, devemos ouvi-lo e respeitá-lo. Isto significa respeitar quando o nosso coração nos diz que não gosta de qualquer toque, vindo de quem vier, ou qualquer proposta que nos é feita. Se causa desconforto, não devemos aceitar. 

Last question: que auxiliares de educação podemos utilizar nestas idades? Livros? Jogos? 

Irina: Existem hoje em dia muitos materiais engraçados e ajustados a todas as faixas etárias. É um recurso que podemos e devemos usar, porque nos facilita grandiosamente as nossas conversas e a forma como podemos explorar a temática da sexualidade. Deixo aqui apenas algumas sugestões, de entre as inúmeras que existem. Normalmente, qualquer livro que pretenda responder à temática de “Como nascem os bebés” aborda a sexualidade na sua globalidade e, por isso, são bons recursos para usarmos. Aconselho a que folheiam o livro e vejam se a linguagem e ilustrações se adequam à vossa forma de ser e estar e às vossas dinâmicas familiares. Devemos, acima de tudo, sentirmo-nos à vontade com o que estamos a explorar, e isso, inquestionavelmente, passará para os nossos filhos. 
Cliquem nas imagens para mais informação sobre os livros sugeridos:
 
Esperamos ter sido úteis!
Boas Caminhadas!